quarta-feira, 28 de outubro de 2015

[leituras] um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Título: um rio chamado tempo, uma casa chamada terra
Autor: Mia Couto
Páginas: 256
Ano: 2002

Há já algum tempo que me buzinavam os ouvidos algumas palavras para quão boa era a escrita deste senhor.

Li há uns tempos A Varanda do Frangipani e embora tenha sido um livro engraçado não me fascinou por aí além.

Para tirar teimas quis ler este um rio chamado tempo, uma casa chamada terra primeiro porque tem um título fabuloso e porque era o que me diziam que os tinha convencido.

Pois bem, o livro tem um conceito engraçado de nos mostrar as brincadeiras de vida e morte. Apresentam-nos logo a premissa inicial: o Avô Mariano morreu, e é esse evento que traz de volta à aldeia Natal o seu neto, também Mariano de nome, que vive na cidade.

E é pelos olhos desta pessoa, este neto Mariano, que vamos conhecendo toda a gente e todos os segredos que um morto consegue desenterrar (get it?). Se bem que é um morto numa sala sem tecto que deixa bilhetes e desperta uma libido louca nas mulheres da sua vida.

É uma perspectiva muito diferente do que estamos habituados a encontrar, da vida, da morte, das relações familiares, das relações entre as pessoas de uma forma geral. É mesmo interessante analisar o livro não apenas pela história e escrita mas pelos modos de vida que nos são descritos.

Uma coisa que gostei bastante de encontrar em quase todas as passagens foi a carga simbólica que quase tudo tem. Isto é comum na cultura Moçambicana e é engraçado como está tão presente e tão natural na escrita. O que quero dizer é que são coisas que por vezes podiam fazer-se notar de forma assoberbada por ser tão diferente do que conhecemos, mas a maneira como nos é exposto, de forma clara e com o sentido por trás de cada coisa, torna tudo muito mais fácil, interessante e rico.

Agora, não sei se isto é um próximo Nobel como me queriam vender. É uma escrita muito boa, um contador de histórias brilhantes, e um autor que transmite algo para além do que estamos a ler, uma sensação muito pura de percebermos as raízes das coisas.

Gostei deste livro, gostei especialmente de todas as voltas que me deu ao cérebro e que me fez pensar no que me estavam a dizer e nas situações que apareciam.

Eu gostei bastante, atenção, mas já li livros bem melhores, escritas mais interessantes, e autores que mereciam mais uma boa ovação. Este até tem tido reconhecimento pelo bom trabalho que tem, ao menos isso! Não esperaram que morresse...

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