segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

[leituras] Diário da minha Loucura

Título: Diário da Minha Loucura
Autor: Isabel Pereira Rosa
Páginas: 154
Ano: 2014

Eu assim pela capa e pelo título não pegaria neste livro. Tem ar de Sparks ou Margarida Rebelo Pinto. Não vinha no meu carrinho para casa, não senhor.

Mas só me chegou às mãos por uma amiga o ter lido e me ter dada umas luzes do que tratava. Pedi-lho para ver o que por lá encontrava.

Diário da Minha Loucura não podia ser mais directo: o livro é a transcrição do Diário da Bisavó da autora, que muitos intitulavam de louca.

Agora era louca porquê? Primeiro: porque tinha verdadeiros comportamentos complicados, por vezes até para os filhos - como dar banho às filhas de água completamente gelada, para enrijarem - mas noutros casos porque era uma mulher fora do tempo.

Não aceitava que os homens fossem mais do que as mulheres. Defendia que nenhuma mulher se devia sujeitar a um homem ou que não pudesse fazer alguma coisa sem ter a autorização do marido. Entenda-se que o espaço temporal deste diário é entre 1890 a 1910, mais ou menos. Uma mulher com estes pensamentos? Só podia ser louca.

E depois a parte que toca mais e que põe um grande peso no livro é que esta mulher teve 19 filhos, mas só sobreviveram 6. Entre jovens, crianças e alguns ainda por nascer, esta mulher perdeu mais filhos do que os que pode ter a seu lado. Como ela própria diz mais do que uma vez "Perder um filho é perder uma parte de mim. Como é que não eu de ser louca se já sou tão pouco?" (já não sei se as palavras são exactamente estas mas a ideia era esta). Melhor que isso, é que enquanto estava grávida não tinha os seus ataques, andava "normal". Tanto que ela não se lembrava dos ataques, ela escreve no Diário que teve meses que não se lembrava de nada, tempos em que se fechava no quarto, sem comer nem falar com ninguém, ou fugia para o cemitério, para o berço de ferro onde estavam os seus filhos, e adormecia, dentro de uma cova aberta que lá estava.

A acreditar que o Diário é total ou parcialmente verídico esta foi essencialmente uma mulher que sofreu muito, sofreu mais do que alguém devia sofrer. Não era estranho perder muitos filhos na altura que falamos mas nem isso minimiza o impacto que uma mulher deve sentir, e por conseguinte, toda a sua casa, marido e restantes filhos.

O livro lê-se bem, mas há alturas em que se torna um pouco forte, que tem relatos de uma das filhas mais novas que na sua inocência não conseguia perceber a mãe, ou ver as voltas que os filhos deram para não deixarem a mãe desamparada. Enfim, vidas muito complicadas mas que ainda ficaram registadas para a posteridade, para lembrar todos do que já foi a realidade de muito boa gente.

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