segunda-feira, 8 de junho de 2015

[leituras] Um Contrato com Deus

Título: Um Contrato com Deus
Autor: Will Eisner
Páginas: 200
Ano: 1978

Estas colecções que andam a sair são óptimas para descobrir autores e tesouros vários. Desta vez este "Um Contrato com Deus" pela imagem da capa deixou-me com boas expectativas. E não desiludiu (yay!).

O livro é composto por quatro histórias: começa com Um prédio no Bronx e é aqui que temos realmente a imagem da capa e alguém muito chateado com Deus. Há um contrato que é escrito em pedra entre uma criança e Deus e a certa altura Deus não cumpre com as suas obrigações (podia fazer tantas piadas aqui e não vou!). E é assim que um bom rapaz, sempre cumpridor do seu dever - segundo o contrato - deixa de ter qualquer sentido de escrúpulos e tem "sucesso" na vida mas não como sempre tinha querido obter. Quando quer fazer as pazes Deus também não está muito para aí virado. É engraçado como esta é uma história simples e tão bem construída e interessante. Foi de longe a história que mais gostei neste livro e fiquei realmente surpreendida com aquilo que li.

Depois O cantor de rua é sobre, imagine-se a originalidade, um cantor de rua. Um tipo que canta em vielas para arranjar algum dinheiro, necessário para altas tosgas, certamente inspiradoras. Acontece que uma senhora rica mete em cabeça que vai fazer dele uma estrela, a troco de calor humano. Dá-lhe dinheiro para remodelar o guarda roupa e no dia a seguir as coisas mudariam. Ou não! O dinheiro gastou-se rapidamente - e não na mulher grávida que tem em casa - e melhor: sabe-se lá em qual dos becos é que vivia a dita senhora rica? Pode ser que um dia a volte a encontrar.

A terceira hitória é O zelador e é a mais perturbadora de todas. Temos um porteiro de um prédio que não é, de todo, flor que se cheire. Mas depois os habitantes daquele prédio também são estranhos. Um tipo sem escrúpulos a quem é oferecida a oportunidade de ver uma criança nua a troca de uma notita e que sim senhor, parece-me bem. Só que a coisa dá para o torto e é escorraçado.

Por fim Cookalein que devia ser lido por muita gente. A ideia de fingir-se que se é uma coisa para atrair aquilo que queremos. O problema é quando dois fingidores se encontram (agora aparecia o Fernando Pessoa e dissertava um pouco sobre isto!). É isso mesmo que acontece neste caso, duas pessoas que querem conquistar um bom partido e que a única coisa que conseguem arranjar é alguém como eles. Verdade seja dita que era o melhor par que se arranjava, pelo menos eram parecidos e tinham interesses comuns. Enfim, podia ser uma bela lição de vida para muito boa gente.

Eu gostei do livro, embora tenha gostado mais da primeira história e preferisse que as outras fossem mais ao encontro dessa. Sem dúvida que tem perspectivas muito engraçadas e perturbadoras sobre vários assuntos e consegue ter uma mensagem bem transmitida.

Os desenhos a preto e branco são interessantes, acompanham muito bem a história, mudando ligeiramente com o registo de cada história. Mais uma vez aquela onde encontrei o detalhe mais bem captado foi na primeira que tem alturas de imagens lindíssimas.


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